Tomei o ônibus das 8 da manhã para Otawa. Aqui é diferente: vc compra a passagem e não tem lugar nem hora marcados. Vc chega, entra na fila (eles adoram uma fila! Mas a fila é um sinal de respeito, todo mundo sabe que quem chegou primeiro entra primeiro, merece entrar primeiro, o espírito é esse) e escolhe seu lugar. Peguei uma janelinha, toda satisfeita, mas logo ganhei companhia: uma provável professora, que não parou de ler textos, escrever no laptop, marcar textos, escrever no laptop, me deu uma angústia ver aquilo e imaginar que tb eu, quando viajo no Brasil a trabalho, faço isso - é angustiante. A minha companheira de ônibus saltou, como a grande maioria dos passageiros, na Universidade de Otawa, que é enorme e bem bonita. Na rodoviária, tomei um taxi e fui direto para a National Gallery. Fiquei encantada. Primeiro com a arquitetura do prédio, que vcs podem ver na foto em que aparece a aranha da Louise Bourgeois, que virou símbolo do museu. A estrutura é em aço e vidro, pé direito altíssimo, muito bem dividido, fácil de caminhar por ele. O acervo da arte canadense foi o que mais me interessou, pq não conhecia nada. Adorei. As pinturas vão dos retratos acadêmicos do final do século XIX a abstrações de grande vigor, já nos anos 60-70. No meio disso, muita paisagem, muita pintura da neve, das montanhas, das cidades, dos índios. É como se eles realmente buscassem na arte uma identidade e reconhecessem, nos motivos das pinturas, a força da terra - da natureza e dos habitantes originais - sobre o trabalho artístico. Toda essa força aparece depois, numa pintura já mais internacionalizada, mas muito expressiva e vigorosa. Parei para almoçar, no café do próprio museu, com a vista deslumbrante do Parlamento de um lado e o rio Otawa, que banha a cidade, de outro. A foto metonímica mostra que eu estava lá, tomando meu vinho e aguardando o salmão. Depois, fui ver a coleção de arte europeia, mas me encantei mesmo foi com a arte inuit, uma expressão de grande força ingênua, que causa forte emoção. Fiquei mais de 3 horas no museu - e fiz muito bem. Os museus me acolhem sempre com grande generosidade, ali fico entregue ao silêncio e à contemplação. Do museu fui ao Parlamento, um conjunto de prédios históricos imponente e impressionante, cheguei a marcar uma visita guiada, mas depois decidi ficar andando pela cidade, pq senão ia conhecer só os interiores de Otawa. Vcs podem ver que a cidade é muito verde e que as árvores estão já com muitas cores, uma lindeza! Nessa caminhada apareceu uma japonesinha e nos fotografamos, eu a ela, ela a mim. Apesar de ser a capital e de ter mais ou menos 1 milhão de habitantes, a cidade tem um trânsito e um movimento que não chegam nem perto de Rio e São Paulo. Muita gente nos pontos de ônibus por volta das 5 da tarde, algum movimento maior de carros, mas trânsito bom, flui e não tem aquela barulheira de buzina e freadas. Por volta das 5 e meia resolvi entrar num bistrô simpático, comi um foie gras e tomei um verre de champagne, só para sentir que eu mereço estar fazendo tantas coisas interessantes. Para não chegar na rodoviária muito cedo, entrei num shopping e descobri... uma Séphora!!! Ah, que saudade de Paris! Comprei um perfuminho e um batom, um brilhinho para minhas meninas, para não perder o hábito, tomei um taxi e fui pegar o ônibus, dessa vez na companhia de uma gorda e bela negra do Congo, que estava viajando para Washington, via Montréal e Nova York! E eu pensando que não aguento mais de 2 horas de ônibus! O capítulo dos imigrantes aqui é uma história à parte, que depois vou contando aos poucos. Cheguei de volta em casa por volta das 10 da noite, cansada, mas contente com o passeio.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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Que depoimento lindo, Lúcia querida! Como você está aproveitando o Canadá! O seu olhar é, realmente, de mestre! Adorei as observações! Beijos e durma bem! As fotos estão lindas!
ResponderExcluirQuem sabe contar uma viagem, faz os outros também viajarem juntos.Pois é que bom que você conheceu mais uma cidade!!E, como gosta cheia de museus e coisas interessantes!!!Um beijopara você.Mamãe.
ResponderExcluirLucia
ResponderExcluirComo não se encantar com a sua descrição detalhada e sensível do passeio a Otawa, com as fotos espetaculares (a beleza das fotos reflete o olhar de quem está realmente inserida no mundo das artes!). Não sei se me encanto mais com a sua viagem, com suas palavras ou percepções. Na dúvida, escolho as três opções! Afinal, como separá-las?
beijo
Solange
Oi Lucia,
ResponderExcluirjá virou hábito aqui em casa lermos diariamente seu blog. Parece, de fato, que estamos viajando junto tamanha a sua sensibilidade para narrar a viagem. Mas o que estou achando mesmo muito legal é que você está aproveitando mesmo suas percepções para pensar além do mais imediato.
BJS mil,
Andréa e Gui.
Lucia!
ResponderExcluirMuitas saudades sentimos daqui. Seus textos revelam uma flâneur (no feminino é assim?) de primeira. E também uma "narrateur"... rsrsrsrs
Não vemos a hora de ouvir suas histórias pessoalmente.
Beijo,
Gui & Déa.
Saudades, amiga!
ResponderExcluirBeijos