terça-feira, 17 de novembro de 2009

Viagem de volta
















Escrevo já do Brasil, dois dias depois da chegada. É estranho escrever aqui já sob um calor de mais de 30 graus, roupinhas leves e casa por arrumar. Mas não podia deixar de contar do meu último dia em Montréal, que começou com uma caminhada pelo parque La Fontaine, para fotografar as árvores já sem folhas, na paisagem que prenuncia o inverno. Em seguida, tomei um super café da manhã com Nova, num restaurante super "branché", na avenue du Mont Royal. Café estilo americano, com todas aquelas gorduras e açúcares que agora fazem parte de um tempo suspenso e de um lugar muito distante. À tarde embarquei, levei um tombo daqueles de corar de vergonha e dor no aeroporto de Toronto, fiquei 6 horas esperando meu voo para o Rio no aeroporto de Guarulhos, mas dei uma saidinha dos salões do aeroporto só para sentir o calorzinho e tirar uma foto com palmeiras e árvores verdinhas. Todos os amigos que leram esse blog ecompartilharam comigo minhas impressões durante esses dois meses recebam aqui, nesta última mensagem, meu beijo mais amoroso e minha declaração agradecida e comovida de amizade. Se não tivesse tido leitores, comentadores, críticos e admiradores teria sido mais difícil estar fora sozinha tanto tempo... Agora vou esperar a próxima viagem, mudar o nome do blog e continuar a escrever e a fotografar, com o desejo de transformar em palavra e em imagem a experiência tão rica de viver algum tempo fora de casa e da rotina.





sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Meus melhores souvenirs
















Fiquei muito emocionada hoje ao me despedir de meus alunos. Eles me disseram coisas muito bonitas, falaram da descoberta que fizeram do Brasil, da vontade de conhecer o país e de estudar o português. Estavam alguns deles também emocionados, comemos biscoitinhos que levei, tiramos fotos, ouvimos Tom e Vinícius, na voz de Henri Salvador. O curso foi uma viagem pelo tempo e pelo espaço, fomos da carta de Caminha ao sertão de Rosa, das matas verdejantes e do sabiá ao agreste nordestino e das cidades de Tarsila às paisagens imaginárias de Guignard. Passamos pela Paulicéia, vimos Macunaíma, ouvimos Chico, declamamos Bilac e sofremos com Drummond. Preparei tudo com muito cuidado e acho que acertei, posso dizer isso sem vaidade, mas com a alegria de ter realizado bem o trabalho, e mais que isso, com a emoção de ter criado laços de afeto e admiração entre nós. São eles os meus melhores souvenirs do Québec, foi o que lhes disse e é a verdade. Foi com eles que mais falei aqui, foi a eles que mais dediquei meu tempo e foram eles também que me deixaram sem sono e aflita. Depois da aula, brindei a mim mesma, em casa, com uma taça de champagne. Fotografei a minha rua mais uma vez, aproveitando que havia uma obra e pouco movimento de carro. À noitinha, andei uma vez mais pelas ruas antigas do Vieux Montréal, admirando a iluminação, os poucos turistas, os restaurantes que começavam o movimento da noite. E agora vou arrumar as malas, porque amanhã ainda tenho passeio pela manhã e blog antes de partir, às 3 da tarde.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Jantar de despedida




Hoje fizemos um jantar de despedida aqui em casa. Estavam minhas amigas brasileiras Ana, Kelley e Cristiana, e minha amiga québécoise Nova. Cada uma delas tem uma importância em minha vida, todas elas juntas formam o afeto que me permitiu ser feliz em Montréal. Ana foi minha companheirinha de todos os bons passeios, amizade surgida por acaso que me trouxe a alegria de conhecer uma menina tão jovem e batalhadora, cúmplice de compras e turismo, fotos e boas risadas. Nova foi a segurança de saber que eu estava em casa aqui também, sempre disposta a me mostrar as boas coisas de Montréal, além de companheira de interesses acadêmicos, de cinema e de chocolate. Kelley chegou mais tarde, com sua vozinha meiga e seu jeito terno, para continuar meu trabalho e me mostrar passeios e comidinhas gostosas na cidade. Cristiana chegou bem mais tarde, para provar que a vida tem sempre surpresas, pode sempre nos apresentar pessoas bacanas, possibilidades de amizade que, se não se realizam naquele momento, poderão um dia se realizar. Hoje Ana fez um risoto de amêndoas delicioso, eu fiz um franguinho com cenoura, Kelley escolheu os pães, Cris trouxe os vinhos e Nova nos trouxe o Québec, no doce recheado d'érable, na cidre au pomme e no seu sotaque maravilhoso de estrangeira falando português entre brasileiras. Foi uma noite alegre, com música brasileira ao fundo. Me sinto feliz de ter podido conviver com essas meninas tão bacanas, minhas amigas, que acompanharam minha experiência aqui e me mostraram a possibilidade de criar laços tão interessantes, amorosos e variados nessa cidade de Montréal, no outono de 2009.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Pôr-do-sol no oratório











A minha última semana tem sido presenteada com dias lindos, céu azul, sol e temperatura bastante razoável. Hoje fazia 5 graus. Mas a última semana é sempre uma semana ansiosa, cheia da expectativa da volta e da sensação de que é preciso ainda ver... e comprar... e aproveitar... e isso acaba cansando. Fiquei gripada, estou cansada e dormindo mal. Acordo no meio da noite e fico pensando no que vou tirar da mala, no que vou deixar, ou se não tiro nada e pago o excesso. E nesse caso: como vou me virar com 3 malas? E mais ainda: o que vou falar sobre Guimarães Rosa na aula de sexta? Sim, porque ainda há uma aula a dar, um sertão a comentar e um Vinícius a fazer ouvir... E tudo fica meio nebuloso, a cabeça muito ocupada e a sensação de que já não se está mais no lugar, pelo menos não em espírito e vontade. Hoje, para ainda ver um ponto turístico que não tinha visto, fui ao Oratório São José, um lugar de peregrinação de onde se tem uma linda vista da cidade. Veem-se também cenas esperadas, como a da moça que subia e descia os degraus até, provavelmente, pagar a promessa feita. Fui com a Kelley e depois sentamos num café na animada Côte de Neiges e ficamos conversando. A tarde estava realmente linda, pude quase ver o pôr-do-sol no rio Saint Laurent ao fundo da vista que se tem do alto do oratório. Mas as cores do céu nas fotos são já as do entardecer avermelhado de Montréal, por trás das árvores sem folhas do fim de outono. E a luz era uma quando chegamos e outra quando saímos, na rápida mudança de cores do curto tempo da visita. Mas a luz em meu coração já é a do Rio de Janeiro com seus quarenta graus de verão na primavera...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Chocolate com Nova


Hoje, depois de atender alunos na UQAM e me encantar com o encantamento deles com o Brasil, fui tomar chocolate com Nova na Juliette & Chocolat. O "chocolat chaud à l'ancienne" da Juliette, cremoso e saboroso, é o melhor chocolate que já tomei na minha vida. Tomei pela primeira vez logo que cheguei, com Nova, e hoje acho que pela última vez (nessa viagem) com Nova também. Foi bom refazer esse programa e pensar que dois meses até que passaram rápido e que, nesses dois meses, aconteceram tantas coisas. Depois fomos ao cinema ver um filme québecois muito interessante, Donation. Eu estou feliz porque acho que consegui fazer os alunos se interessarem, mais que pela literatura, pela cultura brasileira, pelo Brasil. Hoje um menino veio me perguntar como podia fazer um mestrado em Literatura no Brasil,uma menina me disse que vai trocar o curso de espanhol pelo de português, a outra estava encantada com São Bernardo. Estou feliz com tudo isso, feliz porque sinto que meu francês melhorou muito, minha insegurança com a língua está bem menor e eu percebo que, mesmo com minhas hesitações e inseguranças, consegui fazer bem o trabalho que vim fazer aqui. Estou mais à vontade no departamento, as funcionárias são ótimas, especialmente a Jozéane, a chefe de departamento, a Brenda, é uma pessoa muito bacana, amanhã vamos almoçar num italiano... Vcs só me veem comendo, não é? E aguardem quinta-feira, quando faremos um jantar aqui em casa minhas amigas daqui e eu, será minha despedida!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Semana de despedida






















Hoje comecei minhas despedidas, fotografando a UQAM, uma universidade bonita, que me acolheu tão bem e me permitiu viver uma experiência importante e interessante. Vejam meu "bureau", com a vista da torre da igreja, acho bem legal. Vejam tb o saguão, a amplidão do espaço e o movimento da meninada. O prédio que vcs veem é aquele em que fica o meu departamento, mas a UQAM tem vários prédios espalhados pelo Quartier Latin e também em outros lugares da cidade. Atendi duas alunas, contente de ver o interesse pela literatura brasileira, pelo Brasil. Saí da universidade e fui caminhar um pouco, aproveitando a tarde com temperatura em torno de 15 graus, é o que eles chamam "l'été des indiens", esse calor fora de hora. Andei pela rua Saint Denis, uma das minhas preferidas aqui, cheia de cafés e terraços que hoje estavam cheios de gente, tomando cerveja, conversando... Continuei andando, fotografando casas, ruas, árvores já sem folhas, movimento de bicicletas e de gente... À noitinha passaram aqui em casa a Kelley e uma outra brasileira, que estuda linguística, a Cristiana. Saímos para passear um pouco... pela sua Saint Denis! Paramos numa livraria enorme, ficamos ali um tempo, olhando tudo, cada coisa linda, tentadora, além dos livros, revistas e CDs, havia de tudo, coisas de casa, de cozinha, de papelaria... mas nas minhas malas não cabe mais nada (aliás, acho que não cabe nem o que já comprei!). Terminamos a noite, Kelley e eu, comendo a famosa poutine, uma batata frita com um molho grosso e picante e queijo por cima, muito saborosa, acompanhada de cerveja da terra, eu, como vcs podem ver, já bem cansada das caminhadas todas de hoje. Foi um bom começo de despedida essa segunda-feira!

domingo, 8 de novembro de 2009

A Montréal de Ana
















Ana é minha companheira de turismo, comidinhas e compras. Hoje fomos à torre do estádio de Montréal, subimos no funicular, tiramos muitas fotos (a foto que vcs veem é a primeira que tiramos quando estávamos subindo, com o Biodôme em destaque e o Saint Laurent à direita) e ainda encontramos lá em cima com o Henrique, um atleta brasileiro da natação, em treinamento aqui em Montréal (ele está na foto com a Ana). O mais incrível é que o Henrique volta para o Brasil no mesmo voo que eu, quanta coincidência!!! Tivemos a sorte de hoje ter feito um dia lindo, com céu azul, temperatura muito razoável e sol o dia todo. Descendo da torre, sentamos numas mesinhas e comemos o delicioso sanduíche de frango desfiado com champignon que a Ana tinha preparado, uma delícia! Depois fomos ao Biodôme, um lugar em que existe a reconstituição de vários ambientes naturais do mundo. Lá encontramos micos, araras, pinguins, piranhas, jacarés, linces, castores (para mim os mais interessantes e curiosos) e mais toda a vegetação e clima de cada parte do mundo, muito legal. É um programa que eu não faria se a Ana não tivesse sugerido - e adorei! De lá, fomos à Universidade de Concordia, para a Ana tratar dos ratinhos dela. É um lindo campus, construído num lugar em que habitaram povos indígenas, e por isso há lá uma enorme escultura ao lado da qual a Ana me fotografou... Nosso domingo ainda não tinha terminado: tomamos de volta o ônibus, o metrô e fomos para a área do velho Montréal, eu para compras, a Ana para fotos, e terminamos o dia numa creperia maravilhosa. Foi mesmo uma sorte ter encontrado aqui essa jovem bióloga. A Ana, com sua empolgação com a nova experiência que está vivendo e seu deslumbramento comovente com a cidade e os estudos aqui, me traz tb uma nova experiência, a de fazer uma amiga jovem, muito jovem, e me descobrir animada e disposta a compartilhar com ela caminhadas, aventuras, bichinhos, piqueniques e até uma ida ao Cassino!

sábado, 7 de novembro de 2009

A Montréal de Nova







Hoje fui ao Musée de Beaux Arts, com minha amiga Nova. Foi ótimo ir com ela, que me mostrou alguns pintores canadenses em que eu ainda não havia reparado, trocamos umas ideias boas sobre a pintura no Brasil e no Québec, falamos das aproximações possíveis. Quando voltar, quero escrever um texto comparando os dois grandes nomes da abstração canadense, Riopelle e Borduas, com os abstratos brasileiros. Riopelle me lembra Antonio Bandeira e Borduas, Iberê Camargo, que não é propriamente um abstrato, mas chega lá em alguns trabalhos. Vou escrever e Nova vai traduzir para o francês... Essa foi uma descoberta muito bonita que fiz aqui, a da pintura canadense, e hoje, com a ajuda dos olhos de Nova, pude ver também outros artistas e rever aqueles que tanto prazer me causaram. Depois Nova me levou a um restaurante indiano, fomos de metrô e depois a pé pela deliciosa rua Saint Denis, onde comi tantas gostosuras, sobretudo na Juliette & Chocolat, também apresentada por Nova - mas que amiga boa essa, que conhece tudo de que eu gosto!!!! Almoçamos e eu dei umas voltas ainda pela rua, mas o vento gelado me impediu de continuar, senti muito frio, minha mão, mesmo com luva, ficou gelada. Vejam a foto interessante das plantas cobertas, protegidas do frio, num jardim da rua Sherbrooke. Amanhã vai fazer um dia bonito e vou aproveitar para ir a alguns lugares a que ainda não fui. Sem Nova mas com seus olhos sempre orientando os meus.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Natal chegando







A cidade anda mais triste. Escurece às 5 horas, faz frio, as árvores estão perdendo as folhas. É mais uma mudança nessa cidade cheia de surpresas para meus olhos estrangeiros. E agora as luzes de natal começam a aparecer, pouco a pouco, em algumas árvores, ruas e vitrines. Como se fosse necessária a compensação das luzes coloridas para superar o inverno que se aproxima. Estou quase indo embora, hoje dei minha penúltima aula, e quase posso dizer que vi, nesses dois meses, três mudanças de estação. Cheguei no final do verão, com as árvores verdinhas, mesas nas calçadas, gente andando nas ruas de sandálias e roupas leves. Em seguida, vi a mudança das cores nas árvores e a beleza atordoante do outono. E agora o frio chegando pouco a pouco e até uma chuva de neve anunciando que vem vindo mais uma mudança. É o inverno se anunciando, no vento gelado que obriga a muitas camadas de roupa (vejam como estou cheia de roupas - não estou mais gorda, gente, é muita roupa mesmo!) e no dia que termina mais cedo. Hoje, entretanto, ainda fez um dia bonito, de sol e céu azul, andei na rua, caminhei com a Ana pelas calçadas, depois de um almocinho muito gostoso na Juliete & Chocolate (ah, gente, tenho que confessar a vcs que dividimos na sobremesa um fondue de chocolate m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o!), fugimos um pouco dos subterrâneos. E eu estou feliz porque só me falta uma aula e daqui a pouco estou em casa. Mas também fico feliz de ter vivido essa experiência aqui, de ter visto tanta coisa, de ter conhecido gente interessante, de ter feito novas amigas, de ter vencido o desafio de dar um curso em língua estrangeira, mesmo com todas as minhas dificuldades, limitações e hesitações. Agora é transformar tudo isso num jeito de ser uma pessoa melhor e andar pelo mundo mais confiante, mais atenta e mais leve.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hobbies




Sempre falo aqui de lugares, hoje quero falar de pessoas. Fui jantar na casa da diretora do departamento de estudos literários da UQAM. Tomei o metrô e um ônibus, andei por lugares em que me sentia completamente perdida, não tinha noção de onde estava. Eram 5 horas da tarde e já estava escuro. Ela mora numa cidade colada a Montréal, onde eu nunca tinha ido. Essa sensação de não saber para onde se está indo, mas com um roteiro na mão, que me dizia onde saltar e em que direção andar, é muito interessante. Ir para uma casa certa, num caminho desconhecido. Olhar em volta e não reconhecer nada, estar cercada de desconhecidos, saber apenas o ponto em que se deve saltar. Eu que sempre sei os caminhos, que sempre conduzo, que sempre tenho que saber aonde ir, que direção tomar... adoro andar aqui a pé, de metrô, de ônibus, me dá uma sensação de ser outra pessoa... Bem, mas enfim cheguei na casa da Brenda, que me levou para passear de carro na pequena cidade, depois fomos ao shopping comprar batom (ela) e vinho (eu). Em casa, ela me mostrou o caminho de ferro do marido engenheiro, esse que está na foto. E me disse: cada um tem que ter seu hobbie. Perguntei qual era o dela e ela me mostrou as esculturas lindas que faz. Ela perguntou qual era o meu e eu disse: escrever, mas assim meio sem convicção, sem resposta para as perguntas que vieram em seguida. Fiquei pensando nisso, nos hobbies que temos que ter, nas opções que fazemos na vida, no que deixamos de fazer, sobretudo. Foi um encontro feliz esse de hoje, que me fez pensar nos tantos encontros felizes e inesperados que a vida nos prepara e nos tantos encontros que evitamos, perdendo sempre alguma coisa, algum acontecimento, alguma possibilidade de ver a vida de um modo diferente, inventando outros movimentos de corpo e de olhar...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Despedida de Toronto







Hoje me despedi de Toronto passeando um pouco pela cidade velha, a partir do mercado, que é o lugar em que a cidade começou a existir. Sugestão da Monisa, recepcionista do hotel - uma brasileira de Recife! Ah, é tão bom encontrar alguém que fale a nossa língua nesses lugares! Eu estava há 4 dias falando o basiquinho em inglês e aí uma funcionária do hotel, na hora do check-out, me ouve dizer o nome e diz que é brasileira também. Conversamos um pouco, fico sempre pensando, quando covenrso com um imigrante, nessa vida difícil de estar fora do país de origem, vivendo na lí,ngua do outro, na terra do outro... Não é fácil, a sensação de ser estrangeiro é permanente e pesada. Aqui no Canadá, de modo geral, um país de grande território e população pequena, é uma questão comum e boa pra se pensar. Da velha Toronto fui andando mais um pouco, fiz umas comprinhas, almocei num indiano e fui caminhando de volta pro hotel. Senti muito frio hoje, ventava, choveu um pouco, andei muito tempo, o frio começou a me gelar pés e mãos... O almoço, com um copo de vinho no começo e um chá de pepermint no fim, me reconfortou. A viagem de trem foi ótima, vim dessa vez na janela, mas... era já noite e só vi mesmo uma linda lua cheia no céu acompanhando toda a viagem. Deixo com vcs minhas últimas fotos de Toronto: um dos prédios antigos, com um fantástico trompe l'oeil, o mesmo prediozinho antigo e os modernos atrás, com a torre ao fundo, e a clássica imagem do reflexo do céu nos prédios envidraçados da cidade - que aqui é Toronto (e a prefeitura velha identifica a cidade), mas poderia ser qualquer outra...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Toronto de norte a sul
















Hoje fiz o percurso norte-sul de Toronto, sempre andando. De manhã, fui conhecer o primeiro posto de correios do Canadá, o First Post Office, que, embora funcionando normalmente, está preservado e tem lá os objetos de época, cartas antigas, selos, uma prensa e as mesinhas antigas de madeira, com as canetas de pena de ganso e selo de cera, para vc escrever alguma coisa (que esforço, mas que delícia! É um exercício sensual com a escrita, molhar a pena na tinta, acertar a forma da letra, aguardar que seque...). Saí dali e entrei no choque moderno que é Toronto, hoje ainda mais, porque é dia de trabalho normal aqui. Gente apressada, com seus copos de café na mão, a boca do metrô derramando mais e mais gente, as mulheres elegantes com suas saias, meias, sapatos de salto e casacos, os homens lindos, de terno e manteau (tem coisa mais linda que homem de terno e manteau? Se tiver ainda um cachecol, ai ai ai), os jovens de jeans e agasalhos coloridos. Fui caminhando na direção norte, até o Queen's Park, onde ficam o Parlamento e a Universidade de Toronto. O Parlamento na frente, imponente, e a Universidade espalhada em vários prédios, que cercam o parque e vão continuando na College Street, na direção oeste da cidade. Eu fiquei encantada de ver a Universidade daqui. Muita moçada, andando entre uma aula e outra, cada prédio mais bonito que o outro, o colégio de formação de jovens religiosos que deu origem a tudo isso ainda funcionando como colégio, e, no meio de tudo isso, o parque, com as belas árvores coloridas. Caminhei bastante tempo por ali, olhando o movimento. Depois segui em busca de um bairro conhecido como Little Italy, mas a única coisa que vi foram três italianos conversando na rua e uma pequena pizzaria... Fui descendo, já era quase 1 da tarde, parei para almoçar e descansei uma boa hora. Depois fui caminhando na direção do porto e, pelo caminho, parecia uma cidade toda em construção o que eu via: prédios, ruas, condomínios. E finalmente o porto, com o lago e as ilhas de Toronto em frente. Nos piers há alguns shoppings, restaurantes, lojinhas. O lago Ontario é bastante grande e profundo, tem barcos de passeio e tem também navios de grande calado por lá. A tarde estava linda, as gaivotas vinham para o cais descansar da luta na água, alguns poucos turistas andavam por ali. Fazia frio e silêncio. Só o barulhinho das ondinhas batendo na madeira me fazia companhia. Na volta, chovia um pouco, parei no shopping - o tal imenso - andei de um lado para outro, experimentei o novo perfume Yves Saint Laurent (uma delícia), cheirei todos os sabonetes da Lush, olhei casacos, blusas e nada comprei. A loja principal do shopping é a Sears, que ainda é uma potência por aqui. Comi alguma coisa por ali mesmo e cheguei nesse meu quarto, de onde saio amanhã à tarde de volta para Montréal, que acaba sendo um pouco a minha casa. Amanhã ainda terei tempo de dar mais uma andada e depois conto pra vcs como foi o último dia aqui.

domingo, 1 de novembro de 2009

Domingo em Toronto






















Hoje vivi uma experiência que me deixou encantada. Subi na CN Tower, a torre de Toronto, e fui ao último nível de observação, a quase 500 metros do chão. O dia estava bonito e havia pouquíssimos turistas. O elevador é de vidro e senti uma sensação forte de desequilíbrio. Chegando lá em cima, entretanto, foi um deslumbramento. Fiquei sozinha ali uma meia hora, contemplando a cidade de todos os ângulos. Parecia uma maquete, tudo corria lentamente visto de cima, até o trem, que eu fotografei em movimento. A arquitetura da cidade, variada e pretensiosa, se espalhava pelas ruas bem planejadas. As árvores, os fios, os trilhos e os canteiros pontuavam o movimento dos carros sobre o viaduto e o das pessoas, que pareciam miniaturas. Contornando tudo isso, o lago Ontario, lindo, imenso, com o céu de todas as cores da manhã instável se refletindo nele. Eu olhava tudo aquilo e pensava em como o mundo é mesmo um vasto mundo e como podemos nos espalhar e nos perder nessa imensidão. Foi uma visão que realmente me perturbou e acentuou a qualidade reflexiva e comovida daquele momento de solidão. A experiência de subir na torre é dessas que não se esquecem. Depois o dia continuou como um bom dia de turista. Fui ao Museu Nacional de Belas Artes, a Art Gallery of Ontario, mas, sinceramente, foi uma decepção. Não é que o museu não seja potencialmente interessante ou que não tenha um bom acervo. Mas ele é mal organizado, nem temático nem histórico, tudo misturado. E isso começa com a arquitetura, o museu parece um barco emborcado (vejam a foto, que deixei aqui pq as cores do céu ao entardecer estavam lindas, como em nenhuma das pinturas que vi...). Como o acervo foi arrumado por coleções, a partir das doações, tudo fica complicado de ver, entender e acompanhar. Na ala da pintura canadense (que também se mistura depois em outras alas, nas exposições temáticas), os quadros estão pendurados nas paredes, sem etiquetas ou legendas. Se vc quiser saber quem pintou, quando e o título do quadro, tem que pegar um folheto que fica à disposição para consulta, ler e depois devolver. Ah, achei uma chatice isso! A loja é grande e pretensiosa, além de cara, muito cara. Aliás, Toronto, com todo o seu charme, é uma cidade caríssima. Hoje fui tomar meu breakfast aqui no hotel. Bem, para começar, o café da manhã tem todas aquelas opções americanas de ovos, omeletes, panquecas, bacon, tomate, tudo o que eu detesto pela manhã. Pedi então um waffle de sirop d'érable ( o nome em inglês é outro, mas já automatizei o francês. Aliás, balela essa história de país bilingue, viu, gente? São dois países: num se fala francês, no outro, inglês. Montréal é uma cidade bilingue, quase todos falam inglês e francês, com desembaraço, mas é só, o resto do Canadá é completamente dividido.). Pois então: comi o waffle, tomei um suco de laranja e café. Sabem quanto paguei? 22 dólares!!! Opa, demais, não é? Por isso - e também pq ninguém come um waffle com manteiga e érable impunemente - resolvi economizar no almoço, passei num mercado, comprei uma salada e vim para o hotel almoçar no meu quarto. Em seguida, saí de novo, caminhando meio sem rumo. Fui parar em Chinatown, enorme o bairro chinês daqui! E inacreditável: bolsas Kippling e Louis Vuitton por 19,99, perfumes "importados" por preços baixíssimos. As T-shirts têm as ofertas mais variadas: 5 por 10 dólares, 6 por 9,99... calças de malha são 3 por 10; casacos de moleton, 2 por 19,99... E mais todos os cheiros e sabores que vcs possam imaginar - e todos com os nomes escritos em chinês... que língua estranha para nós! Vc ouve os chineses conversando ali, presta atenção na entonação, pensa que estão discutindo e, de repente, eles caem na gargalhada! De tanto andar, acabei chegando na Universidade de Toronto, num dos prédios da Universidade, que, na verdade, se espalha por um parque que ainda não encontrei. Mas o prédio que eu vi, de pesquisas laboratoriais em medicina, é lindo, daqueles bem ingleses, com as plantas de cores outonais subindo pela fachada. Passei ainda no Kensington Market, uma rua de casinhas que foram se transformando em lojas de antiguidades, brechós, mercados de frutas e legumes, tudo com um ar bem alternativo e anos 60. Super curioso e divertido, vejam as anáguas! Na volta para o hotel, passei naquele restaurante estilo mercado de que falei ontem, tomei uma sopa, um copo de vinho e às 7 horas me recolhi. Foi um dia interessante, mas muito solitário, em que senti a maior falta de alguém perto de mim para conversar, comentar, rir. Faço isso aqui agora, pensando em cada um de vcs que me lê e que poderia ter sido hoje uma ótima companhia...